O que é o ágio do bezerro e como calculá-lo? | Fertili 360
A compra e venda de animais é fator decisivo para o resultado da pecuária de corte, chegando a representar 70% do valor total do lucro da fazenda. Pensando nisso, é prudente entender quais são os cálculos implícitos nesse processo, que influenciam diretamente a margem de lucro. Nós temos na reposição da recria, por exemplo, um dos principais valores a serem calculados: o do ágio.
O que é o ágio?
De modo geral, o ágio é um valor bem comum dentro das operações financeiras. Mas aqui nós vamos estreitar o conceito e explicar para você, pecuarista de corte, o que é o ágio na recria. Ou melhor, o chamado “ágio do bezerro”. Vamos lá?
Você paga um valor x pela @ do bezerro de reposição, certo? E na hora da venda, você recebe por essa @ um outro valor. A essa diferença entre o valor pago pela @ do bezerro na hora da compra e o valor recebido pela @ do boi gordo na hora da venda, nós damos o nome de ágio.
Mas por que é tão importante saber?
Simples: para não comprometer absurdamente o seu lucro. Porque o que costuma acontecer no setor são cenários de ágio muito alto e a ausência do controle dessa conta. Inclusive, segundo o economista Iago Botelho, um ágio acima dos 35% já é sinal de alerta na operação. Aliado a baixa eficiência produtiva e sem medidas de diluição do ágio, é constatado o comprometimento excessivo do resultado da propriedade.
Além disso, não controlar o ágio é não saber onde estão os seus gargalos. E qual é a principal consequência disso? A busca por expandir os resultados apenas através do desembolso não fundamentado de mais recursos, cujo efeito imediato é um só: o aumento dos custos de produção. Estamos dizendo que o investimento é errado? Não, muito pelo contrário e provaremos isso mais para frente.
O que queremos dizer aqui é que há uma diferença grande entre investir para otimizar e investir pensando em volume. O primeiro exige a identificação da origem dos problemas e tecnologia focada em resolvê-los. Já no segundo, corremos o risco de compensar processos ineficientes com o aumento no número de animais comprados, de equipamentos, de mão de obra e etc.
Por isso, você verá a seguir como calcular o ágio do bezerro, formas de comprar melhor seus animais de reposição e estratégias para diluir esse custo inicial da reposição. Ou seja, você aprenderá a investir para otimizar.
Como calcular o ágio do bezerro?
O nome pode até assustar, mas o cálculo não passa de uma regra de três simples. Acompanhe.
Preço da @ do Boi gordo - 100%
Preço da @ do Bezerro - x%
Se a @ do Boi Gordo for R$280,00 e a @ do Bezerro R$400,00 -substituindo os valores na equação- teremos um ágio de 42%. Entenda.
280 - 100%
400 - x%
x = 400/280*100%
x = 142%
Ou seja, 42% acima de 100%. Nesse caso, o resultado da fazenda está em cheque. Será necessário encontrar formas de compra mais eficientes e diluir o ágio na produção.
Como comprar animais de maneira mais eficiente?
Cenários como o de baixa oferta e demanda aquecida podem elevar os preços do bezerro e dar início a corrida por valores menores. Contudo, embora o pecuarista precise pensar em diminuir o ágio do bezerro sobre o boi gordo, a qualidade dos animais de reposição não pode ser plano de fundo.
O fato é que a qualidade também faz parte da conta e somada às demais boas práticas, exerce um efeito compensatório sobre a produção e beneficia o resultado. É só pensar que um animal de boas características vai, por exemplo, ganhar peso mais rápido.
Por isso, é bom manter em mente que “comprar de maneira mais eficiente” não diz respeito somente a preço, mas também a qualidade. Veja duas dicas que podem te ajudar nesse desafio.
1. No início do ano a procura é menor
No início do ano, é normal encontrar bezerros com preços melhores do que os de abril e maio. Entretanto, encontrar uma safra de melhor qualidade nesse período pode ser mais difícil. Avalie a formação deste bezerro e se você terá pasto suficiente para reduzir o custo com suplementação, por exemplo.
2. Dados melhoram as suas decisões
Não há receita de bolo para a pecuária. Cada propriedade tem a sua realidade e ter em mãos os resultados anteriores, os custos de produção e o lucro médio resultará em tomadas de decisão mais assertivas. Como?
Bom, é com essas informações que você vai definir o ponto de equilíbrio para o valor do gado (R$/animal), é o valor máximo que você poderá pagar por animal.
Como diluir o ágio nos custos de produção?
No mês de março de 2021, o ágio do bezerro em relação ao boi gordo ficou em 51,9%. E até o mês de junho seguia acima dos 40%. Os números são realmente preocupantes para o pecuarista de corte. Porque ao pensar no que falamos anteriormente, sobre o sinal vermelho de um ágio superior aos 35%, a atividade parece, no final das contas, cara demais para se manter.
Nesse cenário, como diluir o ágio da compra do bezerro e afrouxar a margem de lucro do pecuarista? A resposta, para a nossa surpresa, está em um outro desafio: o período de seca. Este é mais um daqueles momentos em que precisamos fazer das dificuldades a oportunidade. Até porque não temos uma outra opção.
Recria em confinamento no período da seca como solução para a diluição do ágio do bezerro
Que o período de seca é uma dificuldade para o produtor até o mais leigo sabe. Contudo, o que os últimos anos nos revelam é a intensificação dessa estação. Somamos isso aos altos valores dos bezerros e o resultado é um cenário de alto custo e margens apertadas. A solução? Trabalhar mais.
É a recria em confinamento no período de seca que muitos produtores estão encarando como estratégia para reduzir os custos da @ produzida e aumentar a sua margem de lucro. Mas vamos entender melhor como a intensificação da recria resolveria essa questão.
O objetivo dessa estratégia é comprar um bezerro de 6 a 7@, alcançar um GMD de 0,650 kg no período de 90 a 150 dias, e entregar um garrote de 9 a 10@ na entrada do período das águas. O que ampliaria as possibilidades de lucro.
Mas será que compensa mesmo?
Você deve estar pensando agora em todos os custos embutidos nos sistemas intensificados, certo? Nós também pensamos. Os resultados a seguir levam em consideração todos os custos envolvidos: nutrição, custo operacional e compra de um bezerro de 6@, com base no valores fornecidos pelo mercado.
O custo da @ produzida a pasto na seca é cerca de 80% maior do que o custo da @ produzida no confinamento. Isso acontece porque o ganho de peso diário a pasto, numa condição de pastagem regular na seca, é muito menor do que o ganho no confinamento (0,50 kg/dia versus 0,650 kg/dia, respectivamente). É comum casos inclusive de animais que perdem peso durante esse período
Nesse cenário a pasto, um bezerro de 6@ suplementado entra nas águas com 6,56@ (0,56 @ num período de 120 dias). Já na recria em confinamento, podemos produzir 3@ nesse mesmo período, soltando um bezerro nos pastos de águas com 9@, basicamente o peso de um garrote.
O custo final desse animal inserido dentro da estratégia de recria em confinamento passa a ser 20% menor em comparação ao sistema tradicional. E é por isso que consideramos esta uma boa forma de diluição do ágio do bezerro.
Também é melhor para o desenvolvimento do pasto
As vantagens da recria em confinamento podem ser ainda maiores. Já que manter os animais fechados durante a transição seca-águas beneficia a fase de rebrota dos pastos no início do período chuvoso.
Sem os animais no pasto, consumindo um capim ainda não desenvolvido, a planta cresce com suas reservas energéticas preservadas. O que resulta em forrageiras mais vigorosas e em animais que voltam a pasto sem limitação do GMD. Afinal, há boa oferta de forragem.
Qual GMD “paga” o ágio?
Se você chegou até aqui, é bem provável que já tenha percebido que não é condizente com a realidade nos apegarmos a valores perfeitos sobre o que é ou seria um “ágio ideal” (abaixo dos 35%). Afinal, não é algo possível no cenário atual. É mais inteligente se preocupar em intensificar a produção para operar em lucro, mesmo com a alta no preço do bezerro.
Pense comigo...Você acha que no momento exato da escrita deste artigo, as grandes propriedades estão levando prejuízo por que a @ do bezerro está saindo a R$420,00? Não estão. Elas continuam fazendo bons negócios. Por isso, controle o que for possível de ser controlado. Os preços de compra e venda são dados pelo mercado e olhar para dentro da sua propriedade é o único caminho.
Seguindo essa linha de raciocínio, o próximo cálculo é imprescindível para você entender qual será o esforço necessário para diluir o ágio. Aprenda a calcular qual é o GMD que precisará ser alcançado para pagar essa diferença entre o preço do bezerro e o do boi gordo. Vamos prosseguir?
E então vamos aos cálculos
Vamos assumir os seguintes valores:
Boi gordo - R$300,00/@
Bezerro - R$420,00/@
Primeiro, calcule o ágio em reais.
Ágio por @ = preço da @ do bezerro - preço da @ boi gordo
420 - 300 = R$120/@
(40% no cálculo ensinado pelo tópico 3 “Como calcular o ágio”)
Agora, considerando um bezerro de 7@, calcule o ágio por cabeça.
Ágio por cabeça = ágio por @ x 7@
120 x 7 = R$840/cabeça
Considerando o ágio em 1 ano de recria, faça o cálculo do diário do ágio.
Diário ágio = ágio por cabeça/ período em dias
840/365 = R$2,30/dia
E finalmente vamos ao cálculo final para saber qual será o GMD que pagará o ágio.
GMD = Diário ágio/ R$/kgPV
Perceba que para finalizar o cálculo você precisará do valor correspondente ao custo de 1kg de peso vivo (R$/kg PV). Como você já deve suspeitar, não há segredo.
Valor de 1 kg de PV = preço da @ do Boi gordo/ 30 kg
R$300/@/30kg = R$10/KgPV
Por fim, é só atribuir o valor encontrado ao nosso cálculo.
GMD = R$2,30/dia/R$10/kg PV = 0,230 kg/dia
Ou seja, em um cenário de @ do boi gordo a R$300,00 e @ do bezerro a R$420,00, para diluir esse ágio de 40% a propriedade deverá contar com um ganho médio diário de 0,230 kg.
Agora a Fertili quer saber
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