Quais os impactos do Coronavírus para a pecuária?

Quais os impactos do Coronavírus para a pecuária?

No dia 11 de Março, a Organização Mundial da Saúde declarou pandemia de Covid-19 (coronavírus disease 2019). A Bolsa saltou em queda livre, o dólar disparou e o clima de incerteza aumentou no mercado. E hoje nós temos não apenas uma, mas várias perguntas de 1 milhão. Quais os rumos da economia nacional daqui para frente? Com quais medidas sairemos dessa crise com as menores consequências possíveis? 

Nesse cenário, para além do aumento de 10% a 15% no preço dos insumos, nós precisamos parar e pensar amplamente sobre os impactos do coronavírus no setor pecuário até o momento. Só assim poderemos planejar o futuro e fazer uma gestão de risco diante à crise instaurada.

Por isso, para fins de análise, a Fertili reuniu a reação de alguns agentes do mercado pecuário durante o mês de março de 2020. No entanto, levando em consideração a instabilidade do cenário, os efeitos das políticas implementadas pelo governo e o pico de contágio do vírus, projeções excessivas tendem a perder rapidamente o seu grau de credibilidade. 

Pedimos cautela na interpretação dos dados.

Transferências dos canais de consumo na pecuária

Diante da crise, talvez tenha sido o mercado de carne bovina o mais afetado até então. A pecuária de corte está tendo que enfrentar um fenômeno microeconômico que vamos chamar aqui de Transferência dos Canais de Consumo. Isso acontece quando o consumidor passa a optar por um bem substituto em detrimento de uma queda na renda disponível, por exemplo.

No mercado interno, a preferência por proteínas concorrentes mais baratas se dá, sobretudo, devido às incertezas em relação ao desempenho da economia e manutenção dos empregos. A propensão a poupar aumenta nesse tipo de conjuntura.

O fechamento dos restaurantes também intensifica o fenômeno. Ao passo em que a população de classe média e baixa deixa de comer fora, ela passa a ir ao supermercado e a fazer comparação entre o preço do quilo da carne bovina e o da carne de frango. Nesse sentido, a escolha tende a ser pela mais barata. 

O mercado de carne bovina também é influenciado pela China

Na China, principal importador da carne bovina brasileira, com a população mais isolada e se alimentando em casa, a carne de frango passou a ser preferência. Inclusive, as exportações de frango foram melhores do que as exportações de carne bovina e suína nos primeiros meses do ano.

Impacto do coronavírus segundo a CNA

A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) disponibilizou um boletim sobre os impactos do coronavírus no agro no período de 23 a 27 de março de 2020. A publicação trouxe informações sobre as culturas mais impactadas e sobre o comércio internacional. 

Confira a seguir.

Boi gordo

Impactos do coronavírus no preço da carne bovinaOs preços começaram a cair na semana, mas o produtor preferiu segurar o boi no pasto à venda. Com isso, os frigoríficos voltaram a negociar no patamar de R$ 200 por @, em SP. Ao final da semana, a quantidade de animais negociados negociados foi a maior dos últimos 10 dias, o que deve alongar as escalas de abates dos frigoríficos e pressionar cotações futuras novamente.

Contudo, alguns especialistas aconselham cuidado para o produtor que pretende segurar o boi no pasto. Se a curva de contágio do Brasil for semelhante às dos demais países, ele tende a se estabilizar após 2 meses. Ou seja, em Maio, quando o período é de secas e manter o gado no pasto se torna inviável. 

Lácteos

Pequenas indústrias lácteas localizadas principalmente no Nordeste do Brasil anunciaram redução na coleta de leite, preocupando os produtores que ficaram sem compradores. Na contramão, as grandes indústrias e cooperativas adotaram a estratégia de remanejar sua produção para UHT e leite em pó. Algumas indústrias do Rio Grande do Sul e Goiás que comercializam produtos lácteos para outros estados apontaram dificuldades com o frete retorno.

Ovos

Impactos do coronavírus no mercado de ovosDiante da forte demanda, os preços de ovos têm se valorizado diariamente. Em março, o preço pago ao produtor já acumula alta de 15,8%. Lembra daquele fenômeno sobre qual falamos anteriormente: a transferência dos canais de consumo?

Ração animal

Uma grande preocupação dos pecuaristas tem sido com os custos da ração. Atualmente, a ração base (30% farelo de soja e 70% farelo de milho) está 19% mais cara do que a média do mês de fevereiro. Isso se deve às constantes valorizações do milho e da soja no mercado interno, influenciadas por demanda aquecida e valorização do dólar.

Ministros em Reação ao Cenário

Não tem jeito, as entidades governamentais já são obrigadas a se movimentarem diante à instabilidade do momento. O medo do agravamento de uma crise econômica é certo. 

Por isso, Ministros da Agricultura de diversos países da América do Sul participaram no dia 23 de Março de 2020, a convite da ministra brasileira Tereza Cristina, de uma videoconferência. A intenção foi debater a harmonização de normas e garantir a fluidez do trânsito de mercadorias e o abastecimento de alimentos na região durante a pandemia do Coronavírus.

Embora haja o fechamento de alguma rodovias, a ministra brasileira assegura que isso não vai atrapalhar o trânsito de mercadorias

Uma perspectiva ainda positiva?

A agropecuária brasileira deve crescer 2,9% em 2020, mesmo com os efeitos da pandemia de coronavírus, avalia o Banco Central (BC). O dado está no Relatório Trimestral de Inflação (RTI), divulgado no final do mês de Março. 

No entanto, a projeção positiva tem origem nas boas perspectivas com relação ao mercado de grãos. Pecuaristas de carne e de leite devem se manter de orelhas em pé e começar a planejar uma gestão que leve em conta a piora do crise. 

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