A exportação de carne bovina é afetada pelo coronavírus?
Diante da pandemia do novo novo coronavírus que teve seu primeiro caso registrado no Brasil no dia 26 de fevereiro de 2020, e que no dia 13 de abril já somava um total de 23.440 casos confirmados, diversos setores da economia começaram a temer um colapso. Apesar disso, os setores essenciais de abastecimento (pecuária e agricultura) têm seguido firmes.
Contudo, devemos conversar sobre a pecuária de corte. Nesse setor, a principal forma de escoamento de carne bovina é a exportação. Dessa forma, ela se mostra como principal alternativa para a sobrevivência do agronegócio brasileiro, principalmente porque o mercado interno tem sofrido pressão das empresas frigoríficas, causando queda na cotação do preço da arroba de carne bovina.
Por isso, hoje vamos falar dos impactos causados pela pandemia de Covid-19 nas exportações da carne bovina, relacionando valores de janeiro a março, em comparação aos valores do mesmo período do ano anterior.
Como a pandemia tem impactado a pecuária de corte?
O mercado brasileiro de carne bovina tem sofrido queda no consumo, visto que o poder de compra tem diminuído devido à ameaça de desemprego. Além disso, o fechamento de 11 frigoríficos e a diminuição das escalas de abate também contribuíram para a pressão das empresas sobre os pecuaristas quanto ao preço da arroba (@) de carne. Em São Paulo, a menor necessidade de compra dos frigoríficos resultou em queda da cotação de 1% no preço da @, equivalente a R$2 a menos.
Dessa forma, o escoamento de carne bovina no mercado doméstico tem sido lento e a melhor opção para o pecuarista tem sido reter os animais no pasto. Mas isso apresenta uma complicação: chega ao fim os climas chuvosos, o que representa um período difícil para a pecuária. Esse fato é importante, pois influencia tanto na importação quanto na exportação, já que o custo de produção tende a ser maior.
Qual é o papel do Brasil na exportação de carne bovina?
No mês de março, a pecuária não foi impactada negativamente pela pandemia da Covid-19, mesmo quando parte dos consumidores optou pela carne de frango ou suína por serem concorrentes com menor preço. Primeiro por conta do estoque feito por algumas pessoas, depois devido ao fato de não ter sido um mês em que os casos aumentaram significativamente, como ocorreu em outros países.
A China é o principal país comprador de carne bovina brasileira e se manteve assim mesmo diante da crise de coronavírus. Até então, os resultados de exportação de carne bovina foram satisfatórios. Quando comparado ao valor acumulado entre janeiro e março de 2019, em 2020 houve um aumento de 28% no valor exportado. Só no mês de março, o valor exportado foi de R$555 milhões, cerca de 12% superior ao mês anterior. No gráfico abaixo da Siscomex, é possível observar os países para os quais a carne é destinada, com valor acumulativo entre os meses de janeiro e março:
Fonte: Siscomex
Como é possível observar no gráfico, a China é o país que mais comprou carne bovina do Brasil, seja ela fresca, resfriada ou congelada, chegando a 47% de participação. Essa posição do país no ranking mundial se manteve também em 2019, com participação de 41%. Na China, a pandemia já vem sendo controlada e tem causado menores impactos. Já na Europa, os impactos do vírus fizeram com que parte dos importadores cancelassem os pedidos. Por isso, negociações nesse momento devem ser a salvação do pecuarista. Com o dólar a mais de R$5, negociações podem ser feitas em torno de R$200 e R$250 o preço por @.
Prevenir é a melhor forma de combate ao vírus
Apesar de ainda estarmos vendo bons resultados na pecuária, eles não devem ser usados como desculpa para não tomar os devidos cuidados preventivos contra o Coronavírus. Os animais não são transmissores, mas assim como qualquer outra superfície, podem ser fonte de contaminação. Por isso, o manejo sanitário se faz ainda mais importante durante esse período, evitando que o vírus chegue ao campo.
Qual é a previsão para os próximos meses?
Nesse momento, o pecuarista deve focar no lucro por hectare e não no preço final da carne, que pode sofrer muitas oscilações durante esse período. A pandemia não tem fim previsto para os próximos meses e o produtor deverá ter dificuldades ao entrar no período das secas.
O período poderá ser marcado por redução no ganho de peso médio diário, justificada pela baixa qualidade nas pastagens decorrente da ausência das chuvas. Além disso, o aumento do preço da ração animal poderá causar influência significativa no custo de produção. Dessa forma, será mais difícil a negociação do pecuarista frente a dificuldade de engorda do animal.
A exportação brasileira de carne bovina sofre ameaças?
Com a avaliação feita baseada em valores de exportação, até então não houveram impactos negativos sobre esse setor. O controle da pandemia na China faz com que o país permanecesse como maior comprador de carne bovina brasileira. Sendo assim, a exportação deverá prosseguir sem maiores impactos.
Contudo, ainda é preciso que o pecuarista fique atento à boa gestão da propriedade. Com um olho na saúde animal e na nutrição e outro nas notícias sobre os impactos no mercado.