Diga-me que não és agro que eu direi: sim, tu és
Um breve esclarecimento
Talvez você, conectado ao celular ou ao notebook, no ponto de ônibus ou no intervalo das aulas da faculdade, já tenha torcido o nariz para o prefixo agro. Talvez você tenha ouvido muitas histórias sobre este mundo e até lido sobre. Apenas supondo que você tenha ouvido e lido todas essas histórias, queremos através deste texto, apresentar para você um outro ponto de vista. Vamos lá?
Um sentido para o termo
No vasto mundo dos sentidos da internet, a definição mais técnica para agronegócio caminha sobre o seguinte solo: agronegócio é a junção de vários negócios ligados ou relacionados à agricultura e à pecuária.
E apenas neste primeiro momento, já podemos perceber que não só de grandes latifundiários vive o “monstro agro”. Existe, para a sua condição de setor, um número grande de empreendimentos variados relacionados ao campo. Estes empreendimentos se movimentam em cadeia, (agora sim) formando agronegócio.
Ficou complicado? Que tal fazermos uma analogia? Vamos dizer que o agronegócio é uma corrente! Uma corrente com alguns elos. E estes elos serão todos aqueles negócios relacionados à lida rural. Ainda não ficou claro? Então vamos com um passo de cada vez:
Um dos primeiros elos da corrente agro é a indústria e o comércio de insumos para a produção rural.
Apenas aqui estão inclusos todos os institutos de pesquisa, fábricas, distribuidoras e lojas que se envolvem com a produção e comercialização de insumos agrícolas. Todos eles: fertilizantes, defensivos e equipamentos mecânicos ou digitais que ajudam na lida rural.
Outro elo é formado por fazendas e demais propriedades de produção agrícola e/ou pecuária.
Sem exceção! Produtoras de leite, carne, cana de açúcar, grãos, leguminosas, frutas, verduras e matérias primas em geral (madeira, veneno de cobra, algodão...). Aquelas de grande, médio e pequeno porte. Propriedades tecnificadas ou rústicas, orgânicas ou não. Todas elas compõem este mesmo elo.
Nosso terceiro elo é adornado por todos os processos que acontecem fora das porteiras!
Transporte de produtos agrícolas, beneficiadoras, fábricas de alimentos ou de outros produtos que utilizam matérias primas provenientes da agricultura e pecuária, laboratórios, feiras livres, açougues, restaurantes, supermercados e você: consumidor final.
Assim é formada nossa corrente, o agronegócio! Sim, o mundo agro é complexo. Mesmo tentando simplificá-lo, inserindo-o por completo na analogia única da corrente, tivemos que desdobrá-lo, citando cada elo desta “corrente” e ainda especificando tudo o que compõe cada elo. E ainda dessa forma, talvez não tenhamos conseguido passar aqui toda a complexidade deste mundo rural, empresarial, tradicional e tecnológico.
Somos Todos Agro
O mundo agro é tão complexo que você se insere nele sem perceber. E se por acaso, você atribui ao termo “agronegócio”, significados pejorativos, sem compreender a complexidade de seu significado, cuidado! Pois você pode estar desdenhando da história de Seu José que vende tomates na feira e descobriu que, com o uso de fertilizantes, não vai mais perder metade de seu trabalho em um período de seca. E da de Caio que se formou em Agronomia para ajudar o pai e começou a usar um aplicativo que facilita o controle da fazenda. Está criticando também o trabalho de Alessandra que começou a criação de ovinos e conta com financiamento para ampliar a estrutura da sua propriedade.
Mesmo que indiretamente, não devemos atribuir à coisas complexas e multiformes valores únicos e maniqueístas de “do bem” ou “do mal”. Se José, Caio e Alessandra são agro, porque você não seria? Se por um lado eles oferecem seu trabalho agro, você recebe os produtos agro!
Fiscalização e informação
Se pensarmos sobre os motivos pelos quais tantos torcem os narizes para o termo “agronegócio”, chegaremos a uma conclusão infeliz. Muitos não sabem o que é o agronegócio. Muito menos o que ele representa. O agronegócio é basicamente o alicerce que integra praticamente todos os demais setores econômicos. E você não precisa saber como se constrói uma casa para entender que alicerces são essenciais. Mas o agronegócio não é apenas importante, ele é grande, engloba setores e passa por uma intensa fiscalização.
Todas as propriedades com alguma atividade agropecuária passam por fiscalização. Desde a contagem de animais, à forma de manejo, condições higiênicas, condições das lavouras, usos do solo, usos dos recursos hídricos, condições de trabalho, infraestrutura das construções rurais, entre outras.
Todas as medidas de fiscalização são comandadas pela Crea (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia) de cada estado, Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), Sefaz (Secretaria da Fazenda), além dos vários Ministérios relacionados ao setor. Nos processos de fiscalização, as grandes propriedades recebem técnicos específicos para realização de balanços, contagens e averiguações minuciosas. Quando são encontradas irregularidades, os proprietários são punidos na norma da lei à qual remete a infração.
Segurando A Economia
Se, uma vez, falamos do agronegócio como termo técnico e conciso em parágrafos anteriores, vamos agora tratar esta corrente "monstro" em números. Os dados são referentes ao ano de 2017.
No Brasil o agronegócio representou naquele ano impressionantes 23,5% do PIB (Produto Interno Bruto). Foram exportadas mais de 190 milhões de toneladas de grãos brasileiros e a expectativa para 2018 é de aumento de 15%. Em 12 meses de trabalho o Brasil embarcou mais de 1 bilhão de toneladas de carne bovina in natura. Somos o maior exportador de carne bovina do mundo.
As lavouras ocupam 7,6% do nosso território. São 65.994.479 hectares, o que é pouco se comparado à países como Irlanda e Dinamarca, no entanto, ainda assim conseguimos produzir frutas, verduras e grãos em abundância.
Empregabilidade
Sobre os empregos, sabe-se que o agronegócio emprega mais de 19 milhões de pessoas. Desse número, mais de 11 milhões são empregadas pela agricultura familiar. Falando de alimentos muito presentes no prato dos brasileiros, o Brasil faturou mais de 17,5 bilhões de reais com produção de batatas e tomates.
Percebem? São números representativos que apontam para uma verdade: o agronegócio brasileiro é o principal setor econômico do Brasil e isso é motivo de orgulho.
É importante saber diferenciar as condutas das quais falamos no início deste texto. Se por um lado existe o agricultor de pequeno porte que emprega e alimenta o Brasil, por outro estão os grandes do setor que exportam, fomentam a tecnificação e desenvolvimento de tecnologia no campo.
Não queremos, no entanto, isentar condutas que degradam o meio ambiente, corrompem a dignidade da lida rural e desumanizam os homens que trabalham no campo.
Porém, o que não é viável para o funcionamento da nossa economia, tão sofrida nos últimos tempos, são pessoas tomando como regra as exceções que vão contra a índole e a honestidade e atribuírem a todo um complexo de funcionamento e existência uma única conduta predadora e maligna.
Se houverem ideais que lutem contra as condutas indevidas no mundo agro, lutemos todos juntos. Porém, o que não pode ocorrer é que a desinformação crie uma cultura que deteriora a cultura sertaneja, mistifica os grandes produtores agrícolas e desmerece os pequenos produtores que estão em busca de melhores condições de trabalho.